A Associação dos Profissionais de Turismo da Baixada Santista (APT) alerta para um novo golpe que tem causado prejuízo às agências de viagem e já registrou pelo menos quatro vítimas na Baixada Santista. Apesar disso, todo empresário de turismo ou agente de viagem tem conhecimento dos riscos de vender para pessoas fora do seu mailing de clientes, ficando com a responsabilidade do chargeback nos contratos de intermediação com as operadoras.
Os casos que chegaram ao conhecimento da APT apresentam algumas características em comum, indicando para um comportamento padrão dos golpistas. Uma das vítimas, que terá sua identidade preservada, detalhou o perfil do esquema fraudulento aplicado em sua agência. “Precisamos espalhar esse modus operandi, pra que todos os colegas estejam atentos aos possíveis golpistas”, adverte a empresária de Santos.
O golpe começa quando o falsário vai à agência, consulta valores de passagem de avião para o destino programado, em geral, Recife e quase sempre para grupos de família. Com as informações em mãos, o golpista pergunta que horas encontra o agente na agência e vai embora.
Dias depois, ele liga para a agência procurando quem o atendeu, justamente no horário que este agente não está. “Ele já sabe dessa brecha do horário, mas joga essa conversa de que já tem todas as informações e só quer fechar a compra. Esse é o primeiro indício do golpe”, indica a vítima.
Imagem de Michal Jarmoluk por Pixabay
Quem o atende tenta ajudar para finalizar a venda, afinal, os tempos estão difíceis para quem vive do turismo e os golpistas se aproveitam deste cenário desafiador para fechar o negócio. Outra característica em comum é que o falsário pede para emitir a passagem com uma certa urgência. Alguns chegam até a contar uma história triste, comovem o agente de viagem e conseguem acelerar o processo.
“Eu o atendi e adiantei a reserva das passagens, mas depois minha funcionária tocou o resto, ela que havia recebido ele na agência. Ele passou documento com foto de todos que iriam viajar com ele, seriam dois casais. Passou o cartão de crédito também, perfeito. E aí começou a pressionar pra saber se foi aprovada a compra”.
Falsa aprovação
Tudo isso foi acertado por telefone e para o pagamento foi preciso apenas do número do cartão, como destaca a empresária. O golpista chegou a enviar a imagem da tela de aprovação do cartão do seu aplicativo, comprovando que estava tudo certo com a operação. “Com a aprovação do cartão, o sistema já emite as passagens nos nomes dos passageiros. Depois, ligou pedindo pra remarcar a data do voo e disse que iria pagar a multa em outro cartão, o que ficou claro, depois, que é mais um sinal do golpe”, continua ela.
Já no destino, em Recife, o criminoso pediu à agente de viagem que o atendeu para reservar um hotel de luxo em Maragogi, e já adiantou que iria mudar o voo de volta também, ou seja, pagaria mais multa. Nesse momento, a empresária suspeitou, mas as reservas já haviam sido feitas, o falsário estava instalado no hotel e só depois o pagamento foi negado pelo cartão, que era clonado.
“Comecei a investigar e descobri que ele é ex-presidiário e o amigo que estava com ele é falsificador. Tentamos acionar a polícia lá, avisamos o hotel, mas nada pôde ser feito, pois a hospedagem estava paga, eu que fiquei com o prejuízo todo, de quase R$ 13 mil. Em plena crise, com poucos negócios girando, ainda tenho que amargar esse valor”, lamenta ela.
Para a empresária, a falha pode estar na facilidade de aprovação das compras no cartão de crédito e ela espera que as operadoras repassem orientações de segurança e prevenção aos agentes de viagem, para evitar novas vítimas do golpe. “Não adianta termos todo cuidado do mundo, acionarmos o sistema antifraude e nem esse recurso consegue identificar os falsários. Queremos um suporte adequado para continuarmos operando com cartões de crédito, sem corrermos riscos”, desabafa.
Cuidados
O presidente da APT, Eduardo Silveira, esteve em contato com essa vítima do golpe, a fim de obter detalhes sobre a ação e chamar atenção de todos que atuam em agências. Já se tem conhecimento de pelos menos mais três agências que sofreram a mesma fraude, com prejuízos entre R$ 42 mil a R$ 88 mil, e cujos casos já foram denunciados à polícia.
“Estamos fazendo esse alerta para o golpe que resulta no chargeback não faça mais vítimas. Os golpistas usam cartões clonados, colocam seus nomes no cartão, usam documentos fiéis e os agentes de viagem, mesmo consultando o sistema antifraude, estão sujeitos às falhas desse mecanismo”, analisa Silveira.
Ele orienta que as vítimas do golpe relatem o caso às autoridades policiais, para a devida investigação, e à diretoria da APT, para que seja prestado o respaldo possível no momento. Além disso, o presidente sugere algumas dicas de segurança:
Imagem de Andreas Breitling por Pixabay
- Desconfie de vendas com valores altos para embarques de última hora.
- Faça um cadastro desse cliente com todos os dados pessoais e referencias e confira todos os dados informados. Consulte um órgão de proteção como o Serasa, em caso de dúvidas.
- Preencha todos os documentos de pagamento presencialmente com o cliente (contrato, autorização de débito de cartão).
- Não aceite pagamentos em cartão de crédito em nome de outras pessoas (esposa, amigo, irmão, pai e mãe) que não sejam os próprios passageiros.
- Confira todas as informações antes de finalizar o pagamento e espere pelo menos 48 horas para fazer a entrega dos bilhetes aéreos e vouchers de viagem.
- Outra modalidade adotada pelos estelionatários é pagar em dinheiro com notas falsas. Opte por receber o pagamento através de meios eletrônicos, como o PIX e o TED.
- Em caso de dúvidas, procure a delegacia de Polícia Civil mais próxima.